TRAVESSA MARTINS VASCONCELOS
Em 14 de setembro de 1919, há noventa e oito anos,
foi fundada, na cidade de Mossoró, a Sociedade Beneficente União de Artistas,
sem fins lucrativos, que teve por objeto congregar artistas locais de
diferentes áreas profissionais, como: alfaiates, dentistas, escultores,
fotógrafos, marceneiros, músicos, pedreiros, pintores, sapateiros, e, muitos
outros que habilmente faziam verdadeiros trabalhos artísticos e que
desempenhavam uma função social, e, claro, que esta congregação era de acordo
com o conceito vigente de artista, na época.
RUA 30 DE SETEMBRO, PRAÇA VIGÁRIO ANTONIO JOAQUIM
Os membros da Sociedade, mediante ao pagamento de
uma mensalidade mínima, tinham o direito aos serviços prestados por esta:
assistência odontológica (extração dentária), cursos profissionalizantes de
datilografia, de corte e costura, e outros que viessem a ter importância de
aperfeiçoamento de mão-de-obra para os associados. O surgimento desta Sociedade
representou o engatinhar do espírito da organização de classe e o brotar da
semente do sindicalismo no principal centro comercial do oeste potiguar.
Naquele mesmo ano, outra entidade de classe surgiu, foi fundada, em 08 de junho
de 1919, a Associação Comercial de Mossoró.
“A União era uma grande escola social”, esta
foi a definição dada por José Caldas, (28/01/1923-12/04/2010), ex-Presidente da
Sociedade, que segundo este, nos tempos áureos, a União teve mais mil
associados, e atualmente, conta com pouco mais de cinquenta.
Zé Caldas, assim
popularmente conhecido, e que nas horas de folga, também foi músico, era um
alfaiate renomado na cidade. Nos anos de 1940, iniciou-se no ramo de confecção
de roupas, como empregado da Alfaiataria Rex, a mais famosa da cidade que
vestiu a elite política e empresarial local. Posteriormente, abriu a sua
própria, a Alfaiataria São José, instalada na Rua 30 de Setembro,
Centro.
Na data de 13/06/1927, The Resistance Day
dos mossoroenses, a Sociedade funcionava na atual Avenida Rio Branco, número
1405, esquina com a Avenida Augusto Severo.[1] Décadas
depois, instalou-se na Rua 30 de Setembro, Praça Vigário Antonio
Joaquim Rodrigues, em edifício próprio. É uma edificação que deveria
integrar o patrimônio arquitetônico tombado da cidade, pois esta Sociedade é
capitulo da história local.
Este prédio, ao longo das décadas do Século XX
sediou outras atividades privadas e públicas: a fábrica de cigarros Nova
Esperança, de propriedade de Wanderley & Irmãos; a tipografia do jornal
O Nordeste, de Martins de Vasconcelos; O Manuelito, estúdio
fotográfico de Manuelito Pereira, (1910-1980), o Fotógrafo nº 1 da cidade;
consultório odontológico, cartórios, o Centro Estudantil Mossoroense, (CEM), a
Prefeitura Municipal, durante as administrações de Antonio Rodrigues de
Carvalho, (1927-2009), e Raimundo Soares de Souza, (1920), e por último, a
Câmara Municipal da cidade.
Contudo, conforme declarações de associado e
presidente, Antonio Mariano, informa que a Sociedade vem enfrentando sérias
dificuldades financeiras, em virtude do pequeno número de associados, [2] sendo mantida, exclusivamente, com parcos recursos próprios provenientes
das mensalidades, não recebendo ajuda do poder público para que esta possa
realizar manutenção na edificação, preservação do acervo, documentação e outros
dados importantes à memória histórica local.
Portanto, deveria receber incentivo financeiro
público, pois, a União é das poucas associações de época que ainda
está presente no contexto. Um fato curioso, os seus associados falecidos têm os
seus túmulos, no cemitério local, próximos uns dos outros e pintados com a
mesma cor da fachada principal do prédio da União. O seu brasão, afixado
no frontispício da fachada principal, e cuja disposição dos seus elementos
percebe-se a influência do espírito maçônico, é formado por diferentes ferramentas
de trabalho, representando a diversidade das categorias profissionais que
congregavam à Sociedade. Portanto, existem inúmeros fundamentos para que as
autoridades públicas preocupem-se em preservar este patrimônio que contém
diferentes aspectos da história da cidade.
FONTE – MEMÓRIA FOTOGRÁFICA
Nenhum comentário:
Postar um comentário